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aquihacoracao

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Ter | 29.12.20

E a ti, o que é que te inspira?

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A mim inspira-me a lua tanto como o sol, a noite tanto como o dia, as flores da terra tanto como as estrelas do mar.
Inspira-me o cheiro da primavera e os dias longos de verão, as cores de Outono e o Natal de Inverno.
Inspira-me o cheiro a café, o sabor do chocolate, o quentinho da lareira, aquele livro, aquela canção.
Que lista interminável seria...
Mas a verdadeira inspiração vem das minhas pessoas, aquelas que me olham, sorriem, ouvem, fazem, dão. Aquelas que são as peças do meu puzzle.
Ainda assim, inspiro-me, não menos, naqueles que também cruzam o meu caminho e  trazem consigo empatia, resiliência, alegria. Aqueles que me acrescentam mais um ponto.
Fernando Pessoa (também minha inspiração) disse: "A aranha da minha sorte faz teia de muro a muro... sou presa do meu suporte."
Obrigada a vocês que sabem quem são e obrigada também aos que não.

Lu

Sab | 12.12.20

Tempo

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[foto a pintura de mural] 

Quando somos crianças não existe, sequer, a noção de tempo. À medida que vamos crescendo, vamos percebendo que ele corre veloz. Ainda ontem eu...

Que distância vai do bebé ao velhinho? É que, para quem não sabe, o velhinho já foi bebé (estou a falar a sério).

Assim sendo, e porque não o podemos agarrar, acho que não precisamos de correr atrás dele. Acho até que ele gosta que disfrutemos dele com calma. Tempo para ter tempo. E acho também que ele gosta de ser vivido hoje, em cada hora do dia. E acredito, ainda, que o que ele gosta mais é que o dêmos aos outros (aqueles a quem dizemos tantas vezes: _ desculpa, não tenho tempo).

Durante uns anos,tive exposta no meu quarto esta frase de um autor que desconheço:

"Não é decerto razoável afirmar,

Que tens a vida toda para viver, 

O tempo é todo feito no presente, 

Amanhã podes querer e já não ter."

 

Li. Reli. Decorei. Falta viver.

Nota: p'ra começar ontem!

Lu

Ter | 08.12.20

Um conto de Natal (baseado numa história verídica)

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Em resposta ao desafio da imsilva, deixo aqui o meu conto de Natal. 

 

Corria o ano de 1965 e tudo era muito diferente dos dias de hoje. Ela, Maria de seu nome, era a nona filha de 12 irmãos e teria na altura 9 anitos. Uma família de agricultores onde a realidade residia na dureza do campo, cujo gelo da madrugada precedia ao calor das tardes solarengas. Frequentava a escola, mas em casa tinha tantos afazeres, que pouco tempo lhe sobrava para a brincadeira. Ajudar a mãe a preparar a sopa para todos, na velha panela encardida pelo fogo da lareira, levar a refeição ao seu pai e aos seus irmãos e à tarde distribuir o leite pelos fregueses. Na volta corria, sem fôlego, pelos caminhos de terra batida, com os bolsos do aventalinho carregados de figos ou de amoras, ou do que encontrasse na altura por onde passasse. Tinha medo do escuro. Viviam à luz da candeia e as noites de trovoada eram deveras assustadoras.

Pois bem, aproximava-se então o Natal. E as crianças entusiasmadas, apenas por pensarem no conforto do estômago, pela refeição um pouquinho menos pobre e talvez, até, com uma lasquinha de bacalhau em azeite para cada um. E porque estariam todos juntos. Mas a sua parte favorita eram as brincadeiras com os irmãos e ouvir as risadas e cantigas do seu pai. E assim foi, nesse Natal.

Depois da ceia, seguiram para a missa do galo. Maria ficava encantada quando o Sr Padre trazia o pequenino Jesus para ser colocado junto dos seus pais, no berço de palha. Sentia-o pertinho de si. E também gostava dos cânticos, que alegravam aquelas gentes, com vidas tão duras. Ora bem, Maria reparara, então, que um senhor não tirava os olhos de si e do seu irmão Artur! Até que, um minuto antes da missa acabar, ele se dirigiu até junto deles e lhe entregou uma nota de 100 escudos (mais ao menos o equivalente a 50 cêntimos dos dias de hoje) e disse-lhe para que comprasse uns sapatinhos para ambos, visto os que usavam estarem em péssimo estado, com sola muito gasta e os deditos a "espreitar" (e eram na verdade os seus únicos sapatos). Maria não cabia em si de contente, pois nunca lhe tinham dado uma nota. A verdade é que nenhum deles sabia o que eram presentes de natal porque nunca os puderam ter. Correu para a sua mãe, entregando-lhe o dinheiro, que esboçando um sorriso, disse: — Vou comprar-te os sapatinhos para ti e outros para o teu irmão, tal como o senhor queria que fizesses. Mal sabia ele que Maria e Artur andavam na escola em horas diferentes e a meio caminho trocavam de sapatos. Um ia descalço e o outro vinha descalço, mas graças à sua bondade, a partir daquele dia isso não mais voltou a acontecer. Artur recebeu umas botas e Maria uns sapatinhos cor de rosa, que guarda na memória até hoje, por terem sido um presente tão especial.

E assim, aquela menina soube pela primeira vez o que é um verdadeiro presente de Natal. Aquele que se dá de coração para alegrar o coração de quem o recebe.

Lu